segunda-feira, 24 de maio de 2010

Aprendizagem e encanto



Ao seguirmos pela floresta, na busca da realização dos nossos anseios, necessidades e sonhos, enfrentando ou fugindo de nossos lobos-maus, reconhecendo nossas fadas-madrinhas e deparando-nos com as pedras do caminho, vai “acontecendo” a magia da aprendizagem emocional de nosso Ser.


A dinâmica do processo de aprendizagem percorre uma trilha simbólica pelo terreno do subjetivo que não pode mais ser ignorada e excluída das propostas educacionais, por refletir a metodologia utilizada pela escola da vida. Portanto, a sala-de-aula deve ser o espaço onde o conhecimento é transmitido de forma significativa e sintonizada com a dinâmica do mundo em que vivemos e das experiências que tivemos, por meio de metodologias constituídos de sentido, favorecendo a sintonia entre os conteúdos escolares, histórico de vida e o universo interior. Para que os seres humanos não permaneçam a crescer em função de propostas educacionais que não compreenda a complexidade da natureza humana, sua alma e seus sonhos.

Este novo olhar precisa ser aprendido e adotado desde os educadores de educação infantil, para que a conexão com o “eu” seja tão logo priorizada e as aprendizagens se façam significativas, impedindo que a criança jamais se torne um adulto desconectado de sua essência e assim, uma metade distante do ambiente no qual “deveria” estar inteiro para melhor apropriar-se do conhecimento.

Ao chegarem na escola as crianças não conseguirão desligar-se de seu mundo interior, de sua história de vida e muito menos das emoções resultantes da insegurança diante da nova instituição que a recebe e que a partir de então passa a ser, além da família, a grande responsável por sua educação. Portanto, os educadores do ensino infantil precisam estar aptos a ler os corações de seus alunos e proporcionar-lhes um espaço simbólico capaz de favorecer á inclusão de todo conteúdo interior e construir um ambiente educativo repleto de alegria, prazer e encanto. Pois o encantamento pela vida precisa ser semeado desde os primeiros anos de nossa existência, assim como a fé no futuro e em nossa capacidade de sermos heróis e ao mesmo tempo os escritores de nossas histórias.

Os contos de fadas ingressam neste cenário como imprescindíveis facilitadores de um processo “encantador” de aprendizagens. Pois sua relação com a aprendizagem humana se fez desde o início dos tempos quando as histórias eram contadas ao redor das fogueiras e serviam para transmitir a cultura e as regras de determinado grupo social.

Pelos escritos de Platão (apud Von Franz, 1990), pode se observar que as mulheres mais velhas contavam histórias para as crianças, o que se faz nítida a vinculação dos contos de fadas, desde o início dos tempos, com a educação de crianças.

Um dos desejos de Sigmund Freud, como cita Lima (2000), era compreender os contos à luz da psicanálise, percebendo-os e transformando-os em mais um instrumento de estudo do inconsciente. Caminho este que foi percorrido por Bruno Bettelheim (1980, p.12), terapeuta infantil, que, em seu livro “A Psicanálise dos Contos de Fadas”, diz: “Como educador e terapeuta de crianças gravemente perturbadas, minha tarefa principal foi a de restaurar um significado na vida delas. Para mim, esse trabalho deixou claro que se as crianças fossem criadas de um modo que a vida fosse significativa para elas, não necessitariam ajuda especial.”

Foi na literatura infantil, especialmente nos contos de fadas, que o psicanalista encontrou a forma de fazer chegar às crianças uma maneira não dolorosa de acessar seu inconsciente e resolver seus conflitos de ordem psicológica. Segundo Bettelheim (1980), a mensagem que os contos transmitem, de uma forma simbólica, é que os desafios e conflitos da vida são inevitáveis para todos os seres humanos, cabendo a eles não se intimidarem, para conseguirem dominar todos os obstáculos e sair vitoriosos. Para o terapeuta de crianças, os contos de fadas constituem uma linguagem simbólica, capaz de ser interpretada de forma a auxiliar as crianças a estabelecerem contato direto com seus conflitos e ansiedades. Isto ocorre porque, através da sutileza proeminente da referida linguagem contida nestas histórias, os seus conflitos podem ser amenizados e os seus desejos inconscientes simbolicamente concretizados, dando oportunidade à criança de melhor lidar com o seu mundo interior.

Bettelheim (1980) destaca, assim, o grande papel que os contos de fadas podem representar na vida da criança, acendendo-lhe a esperança e crença num mundo melhor e, principalmente, reconhecendo a sua capacidade de superar os próprios limites na luta contra os obstáculos que surgem em seu caminho e que, inevitavelmente, precisa enfrentar, e sendo, portanto, a escolha pela opção de enfrentar essa luta que, verdadeiramente, desenvolve as potencialidades e habilidades do ser humano.

Sabemos o quanto necessitamos de fé na vida e em nós mesmos quando nos tornamos adultos, e sem sobra de duvida os contos contribuem por semear essa aprendizagem que com certeza emergirá nos momentos certos quando necessitarmos de força para ultrapassarmos os obstáculos da vida. Além de também possibilitarem a construção de um ambiente educativo onde a subjetividade seja, enfim, vista como a base principal de todas as relações que compõem a instituição escolar.

Os contos, com sua linguagem simbólica, descortinando as manifestações do inconsciente, iniciam o educador e educando na trilha da aprendizagem desse novo olhar, abrindo as portas para a compreensão e leitura do mundo que vai alem do que se costuma ver. Enquanto ao mesmo tempo deleitam-se com as histórias encantadas utilizando-as como instrumento facilitador em qualquer nível da escrita, seguindo as orientações de Lima, Duarte e Campos (1998), em seu livro “Os contos de fadas e a Psicopedagogia: “Em cada nível utiliza-se uma didática que irá conflitar concomitantemente o psicanalítico e o cognitivo, permitindo assim que a criança adquira autoconfiança, auto-respeito e compreenda que pode crescer com segurança, pois afinal todos na vida real deverão acabar como contos de fadas, felizes para sempre...”

O encantamento das histórias pode ser utilizado em meio a atividades artísticas como teatro, música, artes plásticas, danças, poesias, literatura. Além de também poder fazer parte das atividades escolares desenvolvidas pelas crianças em meio aos conteúdos, seja no intuito de avaliar os níveis de aprendizagem ou somente trazer alegria para aulas e corações. Estabelecendo-se desde a Educação infantil a sintonia entre cognição e emoção, construindo a verdadeira educação integral por meio de uma pedagogia capaz de encantar os espaços de aprendizagens e estabelecendo uma conexão imediata com os Ser. Construindo a trajetória de seres humanos que desde o inicio de suas histórias se aventuram na floresta pela frase utópica, semeada na lição da fé e da esperança de um dia serem “felizes para sempre...”